Hoje eu convido vocês para conversarmos um pouco sobre limites ou dizer o “sim” ou “não”, atualmente tão difícil em nossa sociedade, a ponto de encontrarmos crianças que são levadas a acreditar que elas sabem mais que os pais, ou que elas é quem vão decidir muito dessa família. Até mesmo a hora de dormir, a hora de acordar, a hora de comer e o que comer. Isso não é certo.
Eu convido, então, vocês a repensarem como desde que o seu bebê nasceu, como ensinaram para esse bebê, menino ou menina. Pai e mãe, como vocês ensinaram o que ele pode? O que é seguro? O que precisa ter de cuidado? Como?
Essa criança pode entender o mundo e os seus limites, que são sempre necessários. Eu sou Luci Pfeiffer, médica pediatra, psicanalista, e por isso pergunto para vocês: como vocês dizem “sim” e “não”? Beije o bebê que chora por vários motivos, tanto para ser trocado, como para receber um carinho e a segurança de um colo, como para pedir para mamar. E nós vamos dizendo a esse bebê “sim, é hora”, “não é hora”, “vou trocar sua fraldinha”, e quanto mais a gente conversa com o bebê do que a gente vai fazer, mais seguro ele fica. Mas precisamos saber dizer não e as crises de descontentamento de um bebê, quando percebe, ou não, podem começar muito cedo. Aos oito, dez meses de idade, quanto mais perto for, é normal que a gente não goste de “não”.
Se eu estou desejando alguma coisa, é difícil eu deixar de desejar por causa de um outro, mas o bebê precisa aprender isso, porque é aí nossa proteção. Eu não posso deixar o bebê mexer num objeto que pode machucar porque ele chora. Não podemos ter medo do choro de um bebê porque é o jeito dele se comunicar com a gente. Podemos dizer muito “sim”. No começo nós trocamos: “esse brinquedo, não, mas esse, sim”. Esse lugar para mexer, eu vou proteger para que ele não tenha mais acesso. É o não passivo.
Eu posso distrair a criança até que ela vai crescendo e vai dizer: “Não, eu quero aquilo”, e a gente vai ter que dizer de forma muito simples e de forma coerente, mesmo repetitiva. “Não, porque machuca”; “não, porque quebra”; “não, porque não é de criança”. Então, eu não posso dar um copo de bebida de adulto para um bebê experimentar porque ela chora, esperneia, joga no chão. Eu tenho que dizer: “Não, isso é de adulto”; “a tela é do adulto”; “o celular é do adulto”. E a criança vai entender esse limite, desde que ele seja coerente, constante. E que a gente diga também e traga para criança um novo estímulo ao seu desenvolvimento saudável.
É nossa obrigação dizer o “sim” e o “não”, que a partir daí a criança vai construir sua estrutura psíquica de personalidade para poder lutar pela vida e quando ela for adulta e puder escolher por ela mesma, saber o que é bom e o que é ruim para ela. E poder ir à luta e poder aceitar ou não e decidir se ela vai aceitar ou se ela vai encontrar algum meio de convencimento, ou de outro caminho para conseguir o que ela quer.
Veja, o quanto importante é o cuidado pai e mãe nos primeiros meses, nos primeiros anos de vida.